4 de dez. de 2009

Sessão Produções

Boa Tarde internautas!
História, esquecimento, memória. Essas são algumas das palavras que podem ser atribuídas a reportagem confeccionada pela acadêmica Raquel Jacob, para a disciplina de Redação e Expressão Oral II, ministrada pelo profesor Sandro Colferai. A repórter foi a fundo investigar e mostrar como se encontrava o Museu Rondon, situado em Vilhena. Confira essa aventura recheada de personagens históricos. Boa leitura e boa descoberta!

História esquecida: Museu Rondon amarga abandono


Nos tempos em que se vive é impossível imaginar as dificuldades encontradas por Marechal Candido Mariano da Silva Rondon para cortar, de lado a lado a selva Amazônica, entre matas, rios, pantanais, com o ataque dos mosquitos, feras, índios selvagens, doenças como malária, beribéri e tantas coisas mais. Não queimava petróleo, todo o transporte era feito em lombo de bois e canoas. Foi assim que Rondon cortou milhares de quilômetros edificando meios de comunicação e demarcando as fronteiras brasileiras com os outros países vizinhos, além de muitos outros trabalhos muito importantes para o país.

A história é contada à reportagem por Damião Moreira Nunes, um ex-funcionário da empreiteira que construiu o prédio do 5º. Bec (Batalhão de Engenharia Civil). Ele, por ocasião da obra, ficou hospedado na Casa de Rondon, há 35 anos. “Lembro-me ainda que o Rondon para Papai era o personagem mais importante da nossa história.Trabalhou por mais de cinquenta anos construindo obras com verbas do governo federal e morreu pobre, mas com toda a honra que morre um herói”, afirma.

Damião conta que quando chegou em Vilhena, observou que era uma área de campo cerrado até atingir a borda da mata, um terreno bem plano e alto, mas sem água. A estrada que ligava o local onde se hospedaram ao 5º. Bec, que deu origem a um bairro da cidade, era precária. A estrada melhorou e um dia foi asfaltada.

O homem, de família pioneira, conta como foram destruídas as linhas telegráficas feitas por Rondon e refeitas por André Zonoecê . A primeira, as próprias máquinas de terraplanagem que abriram a BR-29, em muitos trechos, ao mesmo tempo, em que abriam a estrada, destruíam a linha telegráfica. Enquanto que a segunda, foi destruída pela nova colonização, pois a grande movimentação de agricultores que derrubavam as frentes dos lotes na margem da rodovia, para a formação de lavouras e pastagens, jogavam grandes árvores sobre a linha, que caía por terra.


“Além destes fatos, o descaso, a falta de interesse pelo bem público e até mesmo, de civismo da parte de muitas autoridades constituídas, pelas obras que representam ou demarcam a história de nossa pátria, é talvez a razão mais forte deste abandono e destruição de um empreendimento monumental, que representa uma das primeiras ações de integração nacional”, argumenta.

Damião, que mora hoje em São Paulo, esteve esta semana em Vilhena. “Ao chegar hoje, em companhia do meu filho Paulo César e do sobrinho Vicente Moreira, aqui na casa do Rondon, nesta ex-estação da linha telegráfica, esta histórica casa “abandonada” onde me acampei há 35 anos, durante uma semana de trabalho, outros pensamentos me ocorreram”, diz.

O terreno onde está localizada a referida casa fica ligada a uma outra área onde se situa-se os equipamentos de observação ou rastreamento do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia). Ele salienta a diferença entre vizinhos. “Quanto desenvolvimento, tecnologia e inovações separam os nossos dias, de tantas noites sofridas, em que Rondon, com tantos problemas para pensar e resolver, muitas vezes ao lado de tarimbas ou leitos onde permaneciam alguns dos seus melhores operários, atacados de malária ou outras enfermidades, sem meios de tratamento, olhava por entre as folhagens da selva que cobriam suas barracas ou acampamentos, com tanto entusiasmo e esperança este céu azul do seu país”.

Um céu onde o Cruzeiro do Sul brilhava tão intensamente, mas nunca podia lhe dizer que dormisse em paz, pois dai há alguns anos, um tal de SIVAM, com tanta precisão e facilidade, colheria de outros equipamentos espalhados por aquele céu, tantas informações e notícias que ele, Rondon lutava desesperadamente para abrir caminhos, estender fios por entre esta selva Amazônica para transmitir as informações que o Brasil e o mundo precisava saber.

Hoje, o Museu de Rondon encontra-se em completo abandono. As poucas máquinas e objetos que restaram dos constantes saqueamentos realizados no local, estão enferrujadas e se deteriorando. O telhado não mais protege contra a chuva, por conta dos inúmeros buracos. O caseiro que ainda cuidava da Casa, foi demitido no início do ano, em uma contenção de gastos realizada pela Prefeitura. A administração municipal também foi procurada para dar explicações. De acordo com o secretário municipal de Esportes e Cultura, Natal Pimenta Jacob, foi realizado um projeto de restauração da casa, no final de 2005. Mas até o presente momento, as arquitetações não saíram do papel.

Estudante quer revitalizar museu

Um estudante do quarto ano do curso de Design Gráfico da Universidade Tuiuti do Paraná, pretende apresentar como monografia de final de curso, um trabalho de revitalização do Museu Rondon.


De acordo com Cleber Anderson da Silva, estudante de Design Gráfico no sul do país, cuja infância foi toda transcorrida nos campos de cerrado do entorno de Vilhena, a ideia de transformar em trabalho monográfico a vida do Marechal Cândido Rondon, que passou pela região na década de 1910, se materializou quando começou a pesquisar sobre a vida do desbravador.

Com a pesquisa, o acadêmico descobriu a importância que esse brasileiro tem na história das comunicações no norte do Brasil, notadamente para Vilhena. Outra motivação para a empreitada seria o descaso com que as autoridades têm tratado a preservação do museu, suas peças e o prédio em si, onde originariamente funcionava o posto telegráfico, única forma de comunicação da época com o resto do país.

Além do mais, conta Cleber, em suas pesquisas para começar a montar a peça monográfica, descobriu que no Brasil não existe nenhum local específico, como em Vilhena, onde se pode ver peças, ferramentas e aparelhos usados para a transmissão via Código Morse do então telégrafo de Rondon. O estado lastimável das peças raras, bem como a situação de abandono em que se encontra o museu, disse o estudante, o levou a imaginar um trabalho que utilizasse o design gráfico não só como ferramenta estética, mas também que fosse capaz de transformar o descaso funcional com que tem sido tratado o Museu Rondon – um patrimônio da humanidade – em um local agradável para que futuras gerações possam tomar conhecimento da importância de Rondon para toda a região norte.

A proposta de Anderson é a reforma total do prédio, a recuperação física e estética das peças que compõem o museu, a confecção de catálogos e folders sobre a vida e a obra de Rondon, com ênfase para o período passado na região de Vilhena, bem como a disponibilização de todas essas informações na rede mundial de computadores.

Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

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3 de dez. de 2009

Personagens Amazônicas

Boa Tarde!

Fé, coragem e persistência. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a Everaldo da Costa. O homem residente em um bairro periférico de Vilhena, segue todos os dias para sua luta: fazer cobranças de duas lojas. E para dificultar um pouco mais sua jornada diária, pedala uma bicicleta com uma só perna. Esse perfil foi confeccionado por Raquel Jacob Gonçalves para atender a disciplina de Técnica de Entrevista Jornalística, ministrada pela Professora Patrícia da veiga Borges, em 2008. Boa leitura e boa descoberta.

Uma só perna sobre duas rodas

(Por: Raquel Gonçalves Jacob)


Segunda-feira. Cinco horas da manhã e o sol ainda não acordou. As casas, as flores, as pessoas, todas dormem. Menos os trabalhadores que pedalam suas bicicletas para se dirigirem ao trabalho. São mais de uma centena de magrelas que carregam os funcionários do frigorífico, ainda sonolentos e cansados. Observando a movimentação pelo barulho que as rodas fazem ao deslizar no asfalto está Everaldo da Costa, 47 anos, cobrador de uma das mais antigas lojas da Avenida Melvin Jones, e morador aos fundos do estabelecimento há quatro anos. “Acordo todos os dias quando ouço as bicicletas passarem, em geral eles andam em silêncio porque ainda tão com sono, por isso dá pra ouvir o barulho das bicicletas que já são mais surradinhas e batem bastante o pára-lama e outras peças que tão meio soltas”.
Depois de ser acordado pelas bicicletas e fazer um momento “a sós com Deus”, quando lê a Bíblia e ora, Everaldo toma um café preto para despertar, já em companhia da família, que acorda cedo por causa das meninas que vão para a escola. “Às vezes o café é medroso, aí vem acompanhado com pão caseiro e margarina, mas tem dias que ele fica corajoso e por isso vem sozinho”, fala o homem com sorriso nos lábios e em uma das mãos um copo que antes servira para armazenar extrato de tomate, agora cheio de café. Com a outra mão ele abre o portão para que eu entre. A cozinha de madeira, com uma mesa e quatro cadeiras de parafusos bambos, uma geladeira caramelo, uma pia, um fogão pequeno e uma prateleira de madeira; na outra extremidade do cômodo, um sofá e uma estante pequena de madeira, já com o verniz descascando; a TV de 14 polegadas ligada com a imagem chuviscada que a antena interna consegue transmitir. O cenário dá a impressão de uma casa simples e com pouco conforto.
Enquanto tomava café, ele me convidou para com ele fazer uma oração e ler um trecho da Bíblia em Mateus, capítulo 6, versículos de 19 a 21: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. A leitura foi acompanhada pelos olhos atentos da esposa, Dona Marlene, de 39 anos, e as duas filhas de 13 e 11 anos. “Sabe, eu não me preocupo em ter riquezas, porque um dia eu vou embora e não vou levar nada, tudo isso vai ficar por aí”.
O homem religioso ao extremo é membro da Igreja Assembleia de Deus, também situada na Avenida Melvin Jones. Estatura mediana, cabelos castanhos e crespos, mantidos em corte baixo, tipo físico magro, bermuda de brim e camiseta de malha colorida. Seria a descrição de um homem comum, não fosse o fato de ele ter apenas uma perna (a outra ele perdeu na altura da coxa em um acidente que sofreu quando tinha 17 anos).
Ao terminar o café, ele se prepara e vai trabalhar. Everaldo é aposentado por invalidez, mas só com o salário mínimo não consegue sustentar a família. O casal trabalha na loja de confecções que fica na frente da casa, em uma mesma construção. A mulher é responsável pela limpeza e pelo atendimento na lojinha, enquanto ele faz as cobranças. Everaldo ainda presta serviços para outra loja, no centro da cidade, também como cobrador. “Tem dias que é difícil trabalhar porque tem gente que dá nó até em pingo d’água, entende? E aí não consigo receber nada”, afirma, ao explicar que ganha a comissão em porcentagem sobre o que consegue receber dos clientes. Em troca do trabalho, o casal recebe a casa dos fundos da loja para morar: dois quartos, sala e cozinha juntas, um banheiro e uma área de serviços.
Já na loja, o homem aguarda a chefe separar as notas que estão vencidas. Com os papéis em uma pasta, ele parte em busca do sustento da família. O trabalho é todo feito de bicicleta. Para subir no veículo, Everaldo encosta-o no meio fio e passa o toco de perna por cima do quadro até se aconchegar no banco da magrela. Assim que saímos, perguntei a ele como conseguia manter o equilíbrio. “É prática, ando de bicicleta desde os meus seis anos, quando eu ainda morava no sítio e andava mais de 20 Km para ajudar meu pai na lavoura. Quando perdi a perna, foi só uma questão de acostumar”, explica. O acidente que o fez perder a perna foi em uma estrada vicinal próximo de Araputanga, interior de Mato Grosso, onde viveu até seus 20 anos, quando se casou pela primeira vez. “Peguei uma carona com o carro do leite para ir até a cidade, que a gente morava no sítio, aí o carro bateu com um caminhão boiadeiro que tava vindo no sentido contrário, entende? Aí eu caí e fiquei desacordado. Quando voltei em si eu tava no hospital em Cuiabá e depois de três dias descobri que tinham amputado a minha perna, os médicos explicaram lá, mas eu não entendi muito, sei que foi Deus que quis assim”. A narrativa foi seguida por silêncio.
Três quadras depois: “o sol está quente hoje, né?”, eu tentava puxar assunto outra vez. Everaldo gosta de falar bastante, mas quando se entristece com algum assunto, se retrai e mantém-se trancado dentro de si. Aos poucos, ele volta a falar. Conta que depois do acidente não teve mais como trabalhar a terra, então teve que se mudar para a cidade, para a casa de um tio, afinal, precisaria do acompanhamento médico que não poderia ter no sítio. Depois que se recuperou, já trabalhou como vendedor ambulante de utensílios domésticos, como zelador, e agora trabalha há três anos como cobrador.
Foi na cidade que conheceu a ex-mulher, Maria de Lourdes, com quem viveu seis anos e teve um filho agora com 25 anos, o mecânico Paulo Silva da Costa, que ainda mora em Araputanga. Para eles, a vida era muito complicada por causa da dificuldade financeira. As necessidades iam desde moradia até alimentação e por isso resolveram se mudar para a região sul de Rondônia, fixando residência em Colorado do Oeste, onde a vida continuou difícil. “Até que um dia eu falei pra ela, ‘olha, eu te tirei da casa do seu pai onde você tinha as coisas pra te trazer pra essa vida de miséria, e isso não está certo’, peguei ela e o menino, levei de volta pra Araputanga e deixei lá na casa do pai dela. Falei que o dia que as coisas mudassem eu voltava pra buscar eles. Quanto voltei, depois de dois anos, ela já tava com outro”.
A decepção amorosa fez com que Everaldo vivesse por cinco anos apenas pensando na própria sobrevivência. O filho ele passou a ver a cada dois anos, e por agora, não o vê há 11 anos. “Eu tinha vontade de conhecer meu irmão. De vez em quando o pai liga pra ele e eu até já falei com ele no telefone uma vez, mas não é a mesma coisa”, fala a filha mais velha do segundo casamento. A mais nova se limita apenas a afirmar que queria mesmo ver como é o irmão.
Com o tempo, Everaldo conheceu seu Sérgio Adão, que também frequenta a igreja. A filha de Sérgio, Marlene, acabou se tornando a nova paixão de Everaldo. “Ah quando eu a vi pela primeira vez, gostei e depois de um tempo, como o pai dela fazia muito gosto e era muito meu amigo, a gente acabou casando, desta vez, de papel passado. Já tem 14 anos e é pra vida toda”.
A casa de Sérgio Adão, 73 anos, fica há duas quadradas de onde mora a filha. O casebre de madeira fica entre dois pontos comerciais e tem cinco cômodos e uma área. Com telhas de zinco, cerca de madeira e beijo-de-estudante plantados na frente, a casa representa a arquitetura de grande parte das moradias na Avenida Melvin Jones. Na sala, em um sofá de tecido azul surrado e poído, um senhor de cabelos brancos, bigodudo e de pequena estatura fala sem parar. Carioca, seu Sérgio, conta histórias de aventuras sem limites, algumas que incorporou de relatos ouvidos, dos quais ele se coloca sempre como o protagonista. “O Everaldo eu conheci quando trabalhou comigo numa firma. Gostei dele porque era muito esforçado, quando muitos que têm o problema que ele tem iriam querer viver às custas do governo. O rapaz começou a ir na igreja a meu convite e depois passou a freqüentar minha casa e se enamorou da minha filha mais nova. A menina gostou dele e os dois acabaram casando. Dizem que sogro e genro é tudo é birrento um com o outro mas a gente se dá bem, porque tem o temor e o amor de Deus no meio, né?”, conta o aposentado.
Acaba o trabalho matutino, o estômago aponta que é meio-dia, hora do almoço. Everaldo vai para a loja e, em seguida, para sua casa. Depois de almoçar arroz, feijão, quiabo comprado na feira da avenida e carne moída, ele descansa enquanto ouve os principais acontecimentos da cidade pelo rádio. Depois, o homem volta à sua rotina sob a bicicleta em seu malabarismo diário de equilibrar-se com apenas uma perna.
Aos finais de semana, sua distração é a igreja. Mas, como é segunda-feira, Everaldo volta para casa depois de um dia cansativo, de muitas cobranças e pouco dinheiro em caixa. A noite é para descansar. Ele assiste TV com a mulher e as filhas. “O programa que ele mais gosta é jornal, pode ser da Globo ou do SBT, tanto faz, aliás ele gosta dos dois e nem deixa a gente ver a novela”, reclama a mulher. Com pulso firme, ele retruca: “Novela não edifica, não trás nada de bom pra gente, o bom mesmo é ver o jornal e saber o que está acontecendo”.
Quando o atrativo da TV não prende mais a atenção, Everaldo vai dormir. Para recomeçar no dia seguinte, quando as bicicletas vão acordá-lo outra vez.
Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

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1 de dez. de 2009

Sessão Produções

O papo ficou quente de novo no blog. Nubia Alves reportou um pouco do universo escondido dentro do armário. Um lugar onde práticas homossexuais são relativamente comuns e livres. A reportagem foi confeccionada para tender a disciplina Redação e Expressão Oral II, ministrada pelo Professor Sandro Colferai, em 2008. Confira!

Eles brincam de esconde-esconde

A sexualidade e o prazer escondidos no armário

(Por: Nubia Alves)

Imagine a cena: Você (uma gata super sensual) e um amigo homossexual, não tão assumido, numa balada, cheia de “homens bonitos”. Você começa andar reconhecendo território, logo aciona o radar e vê um cara que é o seu número. Seu coração dispara e não consegue tirar o olhar dele. Ele também olha em sua direção e você logo pensa que está sendo correspondida. Já que ele não tomou iniciativa alguma, decide dançar perto dele. Sem perder tempo puxa conversa e ao longo da conversa, percebe que ele está distante e não dá sinal algum que está a fim de ficar com você. É que, ele e o seu amigo se corresponderam por olhares e gestos o tempo todo e você inocente nada percebeu. Depois de algumas horas você chegou a conclusão de que o “bonitão” vestido de playboy não estava olhando para você e sim para o seu amigo, que com certeza entendeu todos os olhares dele. Eu sei o quanto é difícil para nós, mulheres, admitirmos que aquele homem bonito que vimos numa balada, na rua, no supermercado ou na praça não seja tão másculo quanto pensamos. E ao saber disso, sentimos uma certa desvalorização.
Ao cobiçar um homem, somos surpreendidas por uma espécie de cegueira momentânea. Essa cegueira nos causa dolorosas decepções e constrangimentos inesperados. Nosso olhar cobiçador, não nos deixa perceber as bandeiras que o homem desejado deixa escapar. Ou, às vezes, ele não dá a menor pista de que prefere “outras coisas”. São homens que não se assumem sexualmente perante a sociedade e vivem escondidos como se estivessem dentro de um “armário”. É bom começarmos a nos preocuparmos com isso que está se tornando mais comum do se imagina. A nossa preocupação é necessária para não passarmos pela triste experiência que passou Luciana (todos os nomes são fictícios), 27 anos, comerciante. Ela conta que passou por um constrangimento que marcou pra sempre sua vida. “Foi constrangedora aquela cena. Abri a porta principal e fui em direção à cozinha, ouvi barulhos estranhos, eram gemidos, que vinham do meu quarto”. Achou esquisito e foi até lá para averiguar o que estava acontecendo. “Pela porta entreaberta pude ver o que jamais passou pela minha cabeça: meu marido transando com um homem na minha cama”. Para Luciana, seu casamento de cinco anos parecia um relacionamento tranquilo e satisfatório para ambos: “Eu o amava e já estávamos casados há cinco anos. Isso fazia com que pensasse que o nosso casamento estava bom”. Depois dessa triste experiência, ela sente-se insegura para ter um relacionamento sério novamente. “Passei por essa humilhação e hoje tenho medo de me relacionar sério de novo”.
O fato de não assumir a tendência à homossexualidade deve-se ao medo da rejeição da família e aos inúmeros preconceitos da sociedade que ainda seguem padrões tradicionais. É por isso que muitos e muitos homens, reprimidos pela sociedade, negam a sua tendência homossexual e acabam constituindo família. Um dia, largam esposa e filhos e vão, para desespero desses morar com outro homem. Ou pior, passam a vida tendo casos homossexuais escondidos, fazendo infelizes os dois lados: as esposas e os amantes.

A busca pelo prazer

A rotina, as tensões da vida contemporânea, a criação dos filhos, tudo isso serve de pretexto para que casais, mesmo os que tiveram um dia uma vida sexual satisfatória caiam no marasmo, percam o desejo. Isso acontece quando a relação marido e mulher já está desgastada, e o pior, passam a viver como irmãos. É verdade que a rotina acaba com o desejo. O casamento dependendo da forma de como é concebido, muitas vezes, vai distanciando sexualmente o casal. É nesse momento e por esses motivos que o homem contemporâneo homossexualizante, ou seja, o homem que mantém relação sexual com homens, mas que não tem a orientação sexual voltada para o homossexualismo, trai sua mulher.
A busca pela felicidade, inovação e prazer sexual faz com que homens homossexualizantes que se julgam “machos” procurem outro homem para realizar seus desejos. E assim alcançar a satisfação sexual que não encontram transando com mulheres, sejam elas, esposas, noivas, namoradas ou ficantes. Eles procuram o experimental, o igual (mesmo sexo) e o diferente que é o não convencional sexo entre homem e mulher. Guilherme, engenheiro, 38, casado há 10 anos, que o diga. Ele revela a sua insatisfação sexual em seu relacionamento com a esposa. “Confesso que já não sinto mais prazer transando com a minha esposa”. Por isso, ele justifica porque procura o prazer se relacionando com homens. “Busco a minha satisfação sexual passivamente ou ativamente transando com homens, devido sim, a rotina e a mesmice das relações sexuais que tenho com ela”. Revelou que pretende manter seu casamento e também continuar se relacionando com homens. “Não pretendo me separar, nem muito menos assumir que sou homossexualizante. Vou continuar me relacionando com homens porque eles sim, me satisfazem plenamente”.
Sobre a busca pelo prazer, a sexóloga Eliane Pimentel diz que “o corpo é um parque de diversões e cabe a cada ser humano conhecer cada brinquedo, descobrir como funciona e escolher os prediletos”. Como fez o auxiliar administrativo Aquiles, 33 anos, homossexual não assumido, ao descobrir que não sente tesão por homossexual afeminado. “Gosto de me relacionar com homens considerados machos, tenho tara por eles”. Ele conta que não é difícil encontrar esses homens pela cidade. Acha na internet, nas salas de bate-papo, festas, lanchonetes, em ruas movimentadas e não movimentadas, na madrugada vilhenense e em qualquer lugar público. “Estão por toda a cidade. São de todas as classes sociais e para mim não tem idade, já peguei de 18 até 60 anos”.
Reconhecer um homossexualizante para nós mulheres é difícil. Já para Aquiles parece fácil. “Reconheço pelo olhar e gestual. Quando lanço um olhar e vejo que sou correspondido, não deixo passar, pego mesmo. Ele não deixa escapar um e não precisa muito esforço para perceber que o cara está afim. “Basta me dar abertura ou uma ‘deixa’ que está afim, que parto para cima”. Aquiles diz que na cama é ativo e faz sexo com eles por prazer e, às vezes, por dinheiro também. “Gosto de satisfaze-los, me sinto bem”. Ele conta que o tesão aumenta só de saber que tudo vai ser feito bem escondido. “Acho engraçado, quando vejo um ‘peguete’ acompanhado de uma mulher ou de amigos. A gente disfarça e finge que nunca viu. O bom é que ninguém percebe”.

Liberdade e prazer

O direito a liberdade sexual que temos hoje, custou muita luta e muito sacrifício aos nossos antepassados, a quem devemos agradecimentos. Apesar de ainda, trazermos dentro de nós, muitos dos nossos preconceitos, muita herança cultural repressiva, temos o fundamental, o direito de escolher.
A verdadeira liberdade sexual é praticar o sexo dentro dos parâmetros de nossas crenças e convicções. Sabemos que a atividade sexual é uma das maiores necessidades do ser humano e que de uma vida sexual sadia decorre uma vida mental sadia. É preciso ser honesto consigo mesmo, reconhecer seus desejos, suas necessidades e seus limites. O limite do sexo é o da nossa própria crença sobre ele. E as crenças e os princípios daqueles que são escolhidos como parceiros. Fantiny, 22 anos, consultor de vendas, assumiu sua homossexualidade aos 16 anos. A família relutou, mas não podia fazer nada. “Hoje eles não falam nada, sou eu quem sustento a casa. Depois que assumi, senti um alívio, como se fosse um pássaro que acabara de se libertar da gaiola”, disse ele. Fantiny se relaciona com homens de 18 a 40 anos, de todas as classes sociais, mas prefere acima dos 30 anos. “Não sou uma paquita erótica. Gosto de aprender e não de ensinar. Na cama sou passivo, faço a mulher, tenho a mentalidade feminina. Saí do ‘armário’ e sou feliz assim. É a vida que escolhi pra mim”.

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