Eles brincam de esconde-esconde
A sexualidade e o prazer escondidos no armário
(Por: Nubia Alves)
Imagine a cena: Você (uma gata super sensual) e um amigo homossexual, não tão assumido, numa balada, cheia de “homens bonitos”. Você começa andar reconhecendo território, logo aciona o radar e vê um cara que é o seu número. Seu coração dispara e não consegue tirar o olhar dele. Ele também olha em sua direção e você logo pensa que está sendo correspondida. Já que ele não tomou iniciativa alguma, decide dançar perto dele. Sem perder tempo puxa conversa e ao longo da conversa, percebe que ele está distante e não dá sinal algum que está a fim de ficar com você. É que, ele e o seu amigo se corresponderam por olhares e gestos o tempo todo e você inocente nada percebeu. Depois de algumas horas você chegou a conclusão de que o “bonitão” vestido de playboy não estava olhando para você e sim para o seu amigo, que com certeza entendeu todos os olhares dele. Eu sei o quanto é difícil para nós, mulheres, admitirmos que aquele homem bonito que vimos numa balada, na rua, no supermercado ou na praça não seja tão másculo quanto pensamos. E ao saber disso, sentimos uma certa desvalorização.
Ao cobiçar um homem, somos surpreendidas por uma espécie de cegueira momentânea. Essa cegueira nos causa dolorosas decepções e constrangimentos inesperados. Nosso olhar cobiçador, não nos deixa perceber as bandeiras que o homem desejado deixa escapar. Ou, às vezes, ele não dá a menor pista de que prefere “outras coisas”. São homens que não se assumem sexualmente perante a sociedade e vivem escondidos como se estivessem dentro de um “armário”. É bom começarmos a nos preocuparmos com isso que está se tornando mais comum do se imagina. A nossa preocupação é necessária para não passarmos pela triste experiência que passou Luciana (todos os nomes são fictícios), 27 anos, comerciante. Ela conta que passou por um constrangimento que marcou pra sempre sua vida. “Foi constrangedora aquela cena. Abri a porta principal e fui em direção à cozinha, ouvi barulhos estranhos, eram gemidos, que vinham do meu quarto”. Achou esquisito e foi até lá para averiguar o que estava acontecendo. “Pela porta entreaberta pude ver o que jamais passou pela minha cabeça: meu marido transando com um homem na minha cama”. Para Luciana, seu casamento de cinco anos parecia um relacionamento tranquilo e satisfatório para ambos: “Eu o amava e já estávamos casados há cinco anos. Isso fazia com que pensasse que o nosso casamento estava bom”. Depois dessa triste experiência, ela sente-se insegura para ter um relacionamento sério novamente. “Passei por essa humilhação e hoje tenho medo de me relacionar sério de novo”.
O fato de não assumir a tendência à homossexualidade deve-se ao medo da rejeição da família e aos inúmeros preconceitos da sociedade que ainda seguem padrões tradicionais. É por isso que muitos e muitos homens, reprimidos pela sociedade, negam a sua tendência homossexual e acabam constituindo família. Um dia, largam esposa e filhos e vão, para desespero desses morar com outro homem. Ou pior, passam a vida tendo casos homossexuais escondidos, fazendo infelizes os dois lados: as esposas e os amantes.
A busca pelo prazer
A rotina, as tensões da vida contemporânea, a criação dos filhos, tudo isso serve de pretexto para que casais, mesmo os que tiveram um dia uma vida sexual satisfatória caiam no marasmo, percam o desejo. Isso acontece quando a relação marido e mulher já está desgastada, e o pior, passam a viver como irmãos. É verdade que a rotina acaba com o desejo. O casamento dependendo da forma de como é concebido, muitas vezes, vai distanciando sexualmente o casal. É nesse momento e por esses motivos que o homem contemporâneo homossexualizante, ou seja, o homem que mantém relação sexual com homens, mas que não tem a orientação sexual voltada para o homossexualismo, trai sua mulher.
A busca pela felicidade, inovação e prazer sexual faz com que homens homossexualizantes que se julgam “machos” procurem outro homem para realizar seus desejos. E assim alcançar a satisfação sexual que não encontram transando com mulheres, sejam elas, esposas, noivas, namoradas ou ficantes. Eles procuram o experimental, o igual (mesmo sexo) e o diferente que é o não convencional sexo entre homem e mulher. Guilherme, engenheiro, 38, casado há 10 anos, que o diga. Ele revela a sua insatisfação sexual em seu relacionamento com a esposa. “Confesso que já não sinto mais prazer transando com a minha esposa”. Por isso, ele justifica porque procura o prazer se relacionando com homens. “Busco a minha satisfação sexual passivamente ou ativamente transando com homens, devido sim, a rotina e a mesmice das relações sexuais que tenho com ela”. Revelou que pretende manter seu casamento e também continuar se relacionando com homens. “Não pretendo me separar, nem muito menos assumir que sou homossexualizante. Vou continuar me relacionando com homens porque eles sim, me satisfazem plenamente”.
Sobre a busca pelo prazer, a sexóloga Eliane Pimentel diz que “o corpo é um parque de diversões e cabe a cada ser humano conhecer cada brinquedo, descobrir como funciona e escolher os prediletos”. Como fez o auxiliar administrativo Aquiles, 33 anos, homossexual não assumido, ao descobrir que não sente tesão por homossexual afeminado. “Gosto de me relacionar com homens considerados machos, tenho tara por eles”. Ele conta que não é difícil encontrar esses homens pela cidade. Acha na internet, nas salas de bate-papo, festas, lanchonetes, em ruas movimentadas e não movimentadas, na madrugada vilhenense e em qualquer lugar público. “Estão por toda a cidade. São de todas as classes sociais e para mim não tem idade, já peguei de 18 até 60 anos”.
Reconhecer um homossexualizante para nós mulheres é difícil. Já para Aquiles parece fácil. “Reconheço pelo olhar e gestual. Quando lanço um olhar e vejo que sou correspondido, não deixo passar, pego mesmo. Ele não deixa escapar um e não precisa muito esforço para perceber que o cara está afim. “Basta me dar abertura ou uma ‘deixa’ que está afim, que parto para cima”. Aquiles diz que na cama é ativo e faz sexo com eles por prazer e, às vezes, por dinheiro também. “Gosto de satisfaze-los, me sinto bem”. Ele conta que o tesão aumenta só de saber que tudo vai ser feito bem escondido. “Acho engraçado, quando vejo um ‘peguete’ acompanhado de uma mulher ou de amigos. A gente disfarça e finge que nunca viu. O bom é que ninguém percebe”.
Liberdade e prazer
O direito a liberdade sexual que temos hoje, custou muita luta e muito sacrifício aos nossos antepassados, a quem devemos agradecimentos. Apesar de ainda, trazermos dentro de nós, muitos dos nossos preconceitos, muita herança cultural repressiva, temos o fundamental, o direito de escolher.
A verdadeira liberdade sexual é praticar o sexo dentro dos parâmetros de nossas crenças e convicções. Sabemos que a atividade sexual é uma das maiores necessidades do ser humano e que de uma vida sexual sadia decorre uma vida mental sadia. É preciso ser honesto consigo mesmo, reconhecer seus desejos, suas necessidades e seus limites. O limite do sexo é o da nossa própria crença sobre ele. E as crenças e os princípios daqueles que são escolhidos como parceiros. Fantiny, 22 anos, consultor de vendas, assumiu sua homossexualidade aos 16 anos. A família relutou, mas não podia fazer nada. “Hoje eles não falam nada, sou eu quem sustento a casa. Depois que assumi, senti um alívio, como se fosse um pássaro que acabara de se libertar da gaiola”, disse ele. Fantiny se relaciona com homens de 18 a 40 anos, de todas as classes sociais, mas prefere acima dos 30 anos. “Não sou uma paquita erótica. Gosto de aprender e não de ensinar. Na cama sou passivo, faço a mulher, tenho a mentalidade feminina. Saí do ‘armário’ e sou feliz assim. É a vida que escolhi pra mim”.
Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.
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