4 de dez. de 2009

Sessão Produções

Boa Tarde internautas!
História, esquecimento, memória. Essas são algumas das palavras que podem ser atribuídas a reportagem confeccionada pela acadêmica Raquel Jacob, para a disciplina de Redação e Expressão Oral II, ministrada pelo profesor Sandro Colferai. A repórter foi a fundo investigar e mostrar como se encontrava o Museu Rondon, situado em Vilhena. Confira essa aventura recheada de personagens históricos. Boa leitura e boa descoberta!

História esquecida: Museu Rondon amarga abandono


Nos tempos em que se vive é impossível imaginar as dificuldades encontradas por Marechal Candido Mariano da Silva Rondon para cortar, de lado a lado a selva Amazônica, entre matas, rios, pantanais, com o ataque dos mosquitos, feras, índios selvagens, doenças como malária, beribéri e tantas coisas mais. Não queimava petróleo, todo o transporte era feito em lombo de bois e canoas. Foi assim que Rondon cortou milhares de quilômetros edificando meios de comunicação e demarcando as fronteiras brasileiras com os outros países vizinhos, além de muitos outros trabalhos muito importantes para o país.

A história é contada à reportagem por Damião Moreira Nunes, um ex-funcionário da empreiteira que construiu o prédio do 5º. Bec (Batalhão de Engenharia Civil). Ele, por ocasião da obra, ficou hospedado na Casa de Rondon, há 35 anos. “Lembro-me ainda que o Rondon para Papai era o personagem mais importante da nossa história.Trabalhou por mais de cinquenta anos construindo obras com verbas do governo federal e morreu pobre, mas com toda a honra que morre um herói”, afirma.

Damião conta que quando chegou em Vilhena, observou que era uma área de campo cerrado até atingir a borda da mata, um terreno bem plano e alto, mas sem água. A estrada que ligava o local onde se hospedaram ao 5º. Bec, que deu origem a um bairro da cidade, era precária. A estrada melhorou e um dia foi asfaltada.

O homem, de família pioneira, conta como foram destruídas as linhas telegráficas feitas por Rondon e refeitas por André Zonoecê . A primeira, as próprias máquinas de terraplanagem que abriram a BR-29, em muitos trechos, ao mesmo tempo, em que abriam a estrada, destruíam a linha telegráfica. Enquanto que a segunda, foi destruída pela nova colonização, pois a grande movimentação de agricultores que derrubavam as frentes dos lotes na margem da rodovia, para a formação de lavouras e pastagens, jogavam grandes árvores sobre a linha, que caía por terra.


“Além destes fatos, o descaso, a falta de interesse pelo bem público e até mesmo, de civismo da parte de muitas autoridades constituídas, pelas obras que representam ou demarcam a história de nossa pátria, é talvez a razão mais forte deste abandono e destruição de um empreendimento monumental, que representa uma das primeiras ações de integração nacional”, argumenta.

Damião, que mora hoje em São Paulo, esteve esta semana em Vilhena. “Ao chegar hoje, em companhia do meu filho Paulo César e do sobrinho Vicente Moreira, aqui na casa do Rondon, nesta ex-estação da linha telegráfica, esta histórica casa “abandonada” onde me acampei há 35 anos, durante uma semana de trabalho, outros pensamentos me ocorreram”, diz.

O terreno onde está localizada a referida casa fica ligada a uma outra área onde se situa-se os equipamentos de observação ou rastreamento do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia). Ele salienta a diferença entre vizinhos. “Quanto desenvolvimento, tecnologia e inovações separam os nossos dias, de tantas noites sofridas, em que Rondon, com tantos problemas para pensar e resolver, muitas vezes ao lado de tarimbas ou leitos onde permaneciam alguns dos seus melhores operários, atacados de malária ou outras enfermidades, sem meios de tratamento, olhava por entre as folhagens da selva que cobriam suas barracas ou acampamentos, com tanto entusiasmo e esperança este céu azul do seu país”.

Um céu onde o Cruzeiro do Sul brilhava tão intensamente, mas nunca podia lhe dizer que dormisse em paz, pois dai há alguns anos, um tal de SIVAM, com tanta precisão e facilidade, colheria de outros equipamentos espalhados por aquele céu, tantas informações e notícias que ele, Rondon lutava desesperadamente para abrir caminhos, estender fios por entre esta selva Amazônica para transmitir as informações que o Brasil e o mundo precisava saber.

Hoje, o Museu de Rondon encontra-se em completo abandono. As poucas máquinas e objetos que restaram dos constantes saqueamentos realizados no local, estão enferrujadas e se deteriorando. O telhado não mais protege contra a chuva, por conta dos inúmeros buracos. O caseiro que ainda cuidava da Casa, foi demitido no início do ano, em uma contenção de gastos realizada pela Prefeitura. A administração municipal também foi procurada para dar explicações. De acordo com o secretário municipal de Esportes e Cultura, Natal Pimenta Jacob, foi realizado um projeto de restauração da casa, no final de 2005. Mas até o presente momento, as arquitetações não saíram do papel.

Estudante quer revitalizar museu

Um estudante do quarto ano do curso de Design Gráfico da Universidade Tuiuti do Paraná, pretende apresentar como monografia de final de curso, um trabalho de revitalização do Museu Rondon.


De acordo com Cleber Anderson da Silva, estudante de Design Gráfico no sul do país, cuja infância foi toda transcorrida nos campos de cerrado do entorno de Vilhena, a ideia de transformar em trabalho monográfico a vida do Marechal Cândido Rondon, que passou pela região na década de 1910, se materializou quando começou a pesquisar sobre a vida do desbravador.

Com a pesquisa, o acadêmico descobriu a importância que esse brasileiro tem na história das comunicações no norte do Brasil, notadamente para Vilhena. Outra motivação para a empreitada seria o descaso com que as autoridades têm tratado a preservação do museu, suas peças e o prédio em si, onde originariamente funcionava o posto telegráfico, única forma de comunicação da época com o resto do país.

Além do mais, conta Cleber, em suas pesquisas para começar a montar a peça monográfica, descobriu que no Brasil não existe nenhum local específico, como em Vilhena, onde se pode ver peças, ferramentas e aparelhos usados para a transmissão via Código Morse do então telégrafo de Rondon. O estado lastimável das peças raras, bem como a situação de abandono em que se encontra o museu, disse o estudante, o levou a imaginar um trabalho que utilizasse o design gráfico não só como ferramenta estética, mas também que fosse capaz de transformar o descaso funcional com que tem sido tratado o Museu Rondon – um patrimônio da humanidade – em um local agradável para que futuras gerações possam tomar conhecimento da importância de Rondon para toda a região norte.

A proposta de Anderson é a reforma total do prédio, a recuperação física e estética das peças que compõem o museu, a confecção de catálogos e folders sobre a vida e a obra de Rondon, com ênfase para o período passado na região de Vilhena, bem como a disponibilização de todas essas informações na rede mundial de computadores.

Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

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3 de dez. de 2009

Personagens Amazônicas

Boa Tarde!

Fé, coragem e persistência. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a Everaldo da Costa. O homem residente em um bairro periférico de Vilhena, segue todos os dias para sua luta: fazer cobranças de duas lojas. E para dificultar um pouco mais sua jornada diária, pedala uma bicicleta com uma só perna. Esse perfil foi confeccionado por Raquel Jacob Gonçalves para atender a disciplina de Técnica de Entrevista Jornalística, ministrada pela Professora Patrícia da veiga Borges, em 2008. Boa leitura e boa descoberta.

Uma só perna sobre duas rodas

(Por: Raquel Gonçalves Jacob)


Segunda-feira. Cinco horas da manhã e o sol ainda não acordou. As casas, as flores, as pessoas, todas dormem. Menos os trabalhadores que pedalam suas bicicletas para se dirigirem ao trabalho. São mais de uma centena de magrelas que carregam os funcionários do frigorífico, ainda sonolentos e cansados. Observando a movimentação pelo barulho que as rodas fazem ao deslizar no asfalto está Everaldo da Costa, 47 anos, cobrador de uma das mais antigas lojas da Avenida Melvin Jones, e morador aos fundos do estabelecimento há quatro anos. “Acordo todos os dias quando ouço as bicicletas passarem, em geral eles andam em silêncio porque ainda tão com sono, por isso dá pra ouvir o barulho das bicicletas que já são mais surradinhas e batem bastante o pára-lama e outras peças que tão meio soltas”.
Depois de ser acordado pelas bicicletas e fazer um momento “a sós com Deus”, quando lê a Bíblia e ora, Everaldo toma um café preto para despertar, já em companhia da família, que acorda cedo por causa das meninas que vão para a escola. “Às vezes o café é medroso, aí vem acompanhado com pão caseiro e margarina, mas tem dias que ele fica corajoso e por isso vem sozinho”, fala o homem com sorriso nos lábios e em uma das mãos um copo que antes servira para armazenar extrato de tomate, agora cheio de café. Com a outra mão ele abre o portão para que eu entre. A cozinha de madeira, com uma mesa e quatro cadeiras de parafusos bambos, uma geladeira caramelo, uma pia, um fogão pequeno e uma prateleira de madeira; na outra extremidade do cômodo, um sofá e uma estante pequena de madeira, já com o verniz descascando; a TV de 14 polegadas ligada com a imagem chuviscada que a antena interna consegue transmitir. O cenário dá a impressão de uma casa simples e com pouco conforto.
Enquanto tomava café, ele me convidou para com ele fazer uma oração e ler um trecho da Bíblia em Mateus, capítulo 6, versículos de 19 a 21: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. A leitura foi acompanhada pelos olhos atentos da esposa, Dona Marlene, de 39 anos, e as duas filhas de 13 e 11 anos. “Sabe, eu não me preocupo em ter riquezas, porque um dia eu vou embora e não vou levar nada, tudo isso vai ficar por aí”.
O homem religioso ao extremo é membro da Igreja Assembleia de Deus, também situada na Avenida Melvin Jones. Estatura mediana, cabelos castanhos e crespos, mantidos em corte baixo, tipo físico magro, bermuda de brim e camiseta de malha colorida. Seria a descrição de um homem comum, não fosse o fato de ele ter apenas uma perna (a outra ele perdeu na altura da coxa em um acidente que sofreu quando tinha 17 anos).
Ao terminar o café, ele se prepara e vai trabalhar. Everaldo é aposentado por invalidez, mas só com o salário mínimo não consegue sustentar a família. O casal trabalha na loja de confecções que fica na frente da casa, em uma mesma construção. A mulher é responsável pela limpeza e pelo atendimento na lojinha, enquanto ele faz as cobranças. Everaldo ainda presta serviços para outra loja, no centro da cidade, também como cobrador. “Tem dias que é difícil trabalhar porque tem gente que dá nó até em pingo d’água, entende? E aí não consigo receber nada”, afirma, ao explicar que ganha a comissão em porcentagem sobre o que consegue receber dos clientes. Em troca do trabalho, o casal recebe a casa dos fundos da loja para morar: dois quartos, sala e cozinha juntas, um banheiro e uma área de serviços.
Já na loja, o homem aguarda a chefe separar as notas que estão vencidas. Com os papéis em uma pasta, ele parte em busca do sustento da família. O trabalho é todo feito de bicicleta. Para subir no veículo, Everaldo encosta-o no meio fio e passa o toco de perna por cima do quadro até se aconchegar no banco da magrela. Assim que saímos, perguntei a ele como conseguia manter o equilíbrio. “É prática, ando de bicicleta desde os meus seis anos, quando eu ainda morava no sítio e andava mais de 20 Km para ajudar meu pai na lavoura. Quando perdi a perna, foi só uma questão de acostumar”, explica. O acidente que o fez perder a perna foi em uma estrada vicinal próximo de Araputanga, interior de Mato Grosso, onde viveu até seus 20 anos, quando se casou pela primeira vez. “Peguei uma carona com o carro do leite para ir até a cidade, que a gente morava no sítio, aí o carro bateu com um caminhão boiadeiro que tava vindo no sentido contrário, entende? Aí eu caí e fiquei desacordado. Quando voltei em si eu tava no hospital em Cuiabá e depois de três dias descobri que tinham amputado a minha perna, os médicos explicaram lá, mas eu não entendi muito, sei que foi Deus que quis assim”. A narrativa foi seguida por silêncio.
Três quadras depois: “o sol está quente hoje, né?”, eu tentava puxar assunto outra vez. Everaldo gosta de falar bastante, mas quando se entristece com algum assunto, se retrai e mantém-se trancado dentro de si. Aos poucos, ele volta a falar. Conta que depois do acidente não teve mais como trabalhar a terra, então teve que se mudar para a cidade, para a casa de um tio, afinal, precisaria do acompanhamento médico que não poderia ter no sítio. Depois que se recuperou, já trabalhou como vendedor ambulante de utensílios domésticos, como zelador, e agora trabalha há três anos como cobrador.
Foi na cidade que conheceu a ex-mulher, Maria de Lourdes, com quem viveu seis anos e teve um filho agora com 25 anos, o mecânico Paulo Silva da Costa, que ainda mora em Araputanga. Para eles, a vida era muito complicada por causa da dificuldade financeira. As necessidades iam desde moradia até alimentação e por isso resolveram se mudar para a região sul de Rondônia, fixando residência em Colorado do Oeste, onde a vida continuou difícil. “Até que um dia eu falei pra ela, ‘olha, eu te tirei da casa do seu pai onde você tinha as coisas pra te trazer pra essa vida de miséria, e isso não está certo’, peguei ela e o menino, levei de volta pra Araputanga e deixei lá na casa do pai dela. Falei que o dia que as coisas mudassem eu voltava pra buscar eles. Quanto voltei, depois de dois anos, ela já tava com outro”.
A decepção amorosa fez com que Everaldo vivesse por cinco anos apenas pensando na própria sobrevivência. O filho ele passou a ver a cada dois anos, e por agora, não o vê há 11 anos. “Eu tinha vontade de conhecer meu irmão. De vez em quando o pai liga pra ele e eu até já falei com ele no telefone uma vez, mas não é a mesma coisa”, fala a filha mais velha do segundo casamento. A mais nova se limita apenas a afirmar que queria mesmo ver como é o irmão.
Com o tempo, Everaldo conheceu seu Sérgio Adão, que também frequenta a igreja. A filha de Sérgio, Marlene, acabou se tornando a nova paixão de Everaldo. “Ah quando eu a vi pela primeira vez, gostei e depois de um tempo, como o pai dela fazia muito gosto e era muito meu amigo, a gente acabou casando, desta vez, de papel passado. Já tem 14 anos e é pra vida toda”.
A casa de Sérgio Adão, 73 anos, fica há duas quadradas de onde mora a filha. O casebre de madeira fica entre dois pontos comerciais e tem cinco cômodos e uma área. Com telhas de zinco, cerca de madeira e beijo-de-estudante plantados na frente, a casa representa a arquitetura de grande parte das moradias na Avenida Melvin Jones. Na sala, em um sofá de tecido azul surrado e poído, um senhor de cabelos brancos, bigodudo e de pequena estatura fala sem parar. Carioca, seu Sérgio, conta histórias de aventuras sem limites, algumas que incorporou de relatos ouvidos, dos quais ele se coloca sempre como o protagonista. “O Everaldo eu conheci quando trabalhou comigo numa firma. Gostei dele porque era muito esforçado, quando muitos que têm o problema que ele tem iriam querer viver às custas do governo. O rapaz começou a ir na igreja a meu convite e depois passou a freqüentar minha casa e se enamorou da minha filha mais nova. A menina gostou dele e os dois acabaram casando. Dizem que sogro e genro é tudo é birrento um com o outro mas a gente se dá bem, porque tem o temor e o amor de Deus no meio, né?”, conta o aposentado.
Acaba o trabalho matutino, o estômago aponta que é meio-dia, hora do almoço. Everaldo vai para a loja e, em seguida, para sua casa. Depois de almoçar arroz, feijão, quiabo comprado na feira da avenida e carne moída, ele descansa enquanto ouve os principais acontecimentos da cidade pelo rádio. Depois, o homem volta à sua rotina sob a bicicleta em seu malabarismo diário de equilibrar-se com apenas uma perna.
Aos finais de semana, sua distração é a igreja. Mas, como é segunda-feira, Everaldo volta para casa depois de um dia cansativo, de muitas cobranças e pouco dinheiro em caixa. A noite é para descansar. Ele assiste TV com a mulher e as filhas. “O programa que ele mais gosta é jornal, pode ser da Globo ou do SBT, tanto faz, aliás ele gosta dos dois e nem deixa a gente ver a novela”, reclama a mulher. Com pulso firme, ele retruca: “Novela não edifica, não trás nada de bom pra gente, o bom mesmo é ver o jornal e saber o que está acontecendo”.
Quando o atrativo da TV não prende mais a atenção, Everaldo vai dormir. Para recomeçar no dia seguinte, quando as bicicletas vão acordá-lo outra vez.
Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

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1 de dez. de 2009

Sessão Produções

O papo ficou quente de novo no blog. Nubia Alves reportou um pouco do universo escondido dentro do armário. Um lugar onde práticas homossexuais são relativamente comuns e livres. A reportagem foi confeccionada para tender a disciplina Redação e Expressão Oral II, ministrada pelo Professor Sandro Colferai, em 2008. Confira!

Eles brincam de esconde-esconde

A sexualidade e o prazer escondidos no armário

(Por: Nubia Alves)

Imagine a cena: Você (uma gata super sensual) e um amigo homossexual, não tão assumido, numa balada, cheia de “homens bonitos”. Você começa andar reconhecendo território, logo aciona o radar e vê um cara que é o seu número. Seu coração dispara e não consegue tirar o olhar dele. Ele também olha em sua direção e você logo pensa que está sendo correspondida. Já que ele não tomou iniciativa alguma, decide dançar perto dele. Sem perder tempo puxa conversa e ao longo da conversa, percebe que ele está distante e não dá sinal algum que está a fim de ficar com você. É que, ele e o seu amigo se corresponderam por olhares e gestos o tempo todo e você inocente nada percebeu. Depois de algumas horas você chegou a conclusão de que o “bonitão” vestido de playboy não estava olhando para você e sim para o seu amigo, que com certeza entendeu todos os olhares dele. Eu sei o quanto é difícil para nós, mulheres, admitirmos que aquele homem bonito que vimos numa balada, na rua, no supermercado ou na praça não seja tão másculo quanto pensamos. E ao saber disso, sentimos uma certa desvalorização.
Ao cobiçar um homem, somos surpreendidas por uma espécie de cegueira momentânea. Essa cegueira nos causa dolorosas decepções e constrangimentos inesperados. Nosso olhar cobiçador, não nos deixa perceber as bandeiras que o homem desejado deixa escapar. Ou, às vezes, ele não dá a menor pista de que prefere “outras coisas”. São homens que não se assumem sexualmente perante a sociedade e vivem escondidos como se estivessem dentro de um “armário”. É bom começarmos a nos preocuparmos com isso que está se tornando mais comum do se imagina. A nossa preocupação é necessária para não passarmos pela triste experiência que passou Luciana (todos os nomes são fictícios), 27 anos, comerciante. Ela conta que passou por um constrangimento que marcou pra sempre sua vida. “Foi constrangedora aquela cena. Abri a porta principal e fui em direção à cozinha, ouvi barulhos estranhos, eram gemidos, que vinham do meu quarto”. Achou esquisito e foi até lá para averiguar o que estava acontecendo. “Pela porta entreaberta pude ver o que jamais passou pela minha cabeça: meu marido transando com um homem na minha cama”. Para Luciana, seu casamento de cinco anos parecia um relacionamento tranquilo e satisfatório para ambos: “Eu o amava e já estávamos casados há cinco anos. Isso fazia com que pensasse que o nosso casamento estava bom”. Depois dessa triste experiência, ela sente-se insegura para ter um relacionamento sério novamente. “Passei por essa humilhação e hoje tenho medo de me relacionar sério de novo”.
O fato de não assumir a tendência à homossexualidade deve-se ao medo da rejeição da família e aos inúmeros preconceitos da sociedade que ainda seguem padrões tradicionais. É por isso que muitos e muitos homens, reprimidos pela sociedade, negam a sua tendência homossexual e acabam constituindo família. Um dia, largam esposa e filhos e vão, para desespero desses morar com outro homem. Ou pior, passam a vida tendo casos homossexuais escondidos, fazendo infelizes os dois lados: as esposas e os amantes.

A busca pelo prazer

A rotina, as tensões da vida contemporânea, a criação dos filhos, tudo isso serve de pretexto para que casais, mesmo os que tiveram um dia uma vida sexual satisfatória caiam no marasmo, percam o desejo. Isso acontece quando a relação marido e mulher já está desgastada, e o pior, passam a viver como irmãos. É verdade que a rotina acaba com o desejo. O casamento dependendo da forma de como é concebido, muitas vezes, vai distanciando sexualmente o casal. É nesse momento e por esses motivos que o homem contemporâneo homossexualizante, ou seja, o homem que mantém relação sexual com homens, mas que não tem a orientação sexual voltada para o homossexualismo, trai sua mulher.
A busca pela felicidade, inovação e prazer sexual faz com que homens homossexualizantes que se julgam “machos” procurem outro homem para realizar seus desejos. E assim alcançar a satisfação sexual que não encontram transando com mulheres, sejam elas, esposas, noivas, namoradas ou ficantes. Eles procuram o experimental, o igual (mesmo sexo) e o diferente que é o não convencional sexo entre homem e mulher. Guilherme, engenheiro, 38, casado há 10 anos, que o diga. Ele revela a sua insatisfação sexual em seu relacionamento com a esposa. “Confesso que já não sinto mais prazer transando com a minha esposa”. Por isso, ele justifica porque procura o prazer se relacionando com homens. “Busco a minha satisfação sexual passivamente ou ativamente transando com homens, devido sim, a rotina e a mesmice das relações sexuais que tenho com ela”. Revelou que pretende manter seu casamento e também continuar se relacionando com homens. “Não pretendo me separar, nem muito menos assumir que sou homossexualizante. Vou continuar me relacionando com homens porque eles sim, me satisfazem plenamente”.
Sobre a busca pelo prazer, a sexóloga Eliane Pimentel diz que “o corpo é um parque de diversões e cabe a cada ser humano conhecer cada brinquedo, descobrir como funciona e escolher os prediletos”. Como fez o auxiliar administrativo Aquiles, 33 anos, homossexual não assumido, ao descobrir que não sente tesão por homossexual afeminado. “Gosto de me relacionar com homens considerados machos, tenho tara por eles”. Ele conta que não é difícil encontrar esses homens pela cidade. Acha na internet, nas salas de bate-papo, festas, lanchonetes, em ruas movimentadas e não movimentadas, na madrugada vilhenense e em qualquer lugar público. “Estão por toda a cidade. São de todas as classes sociais e para mim não tem idade, já peguei de 18 até 60 anos”.
Reconhecer um homossexualizante para nós mulheres é difícil. Já para Aquiles parece fácil. “Reconheço pelo olhar e gestual. Quando lanço um olhar e vejo que sou correspondido, não deixo passar, pego mesmo. Ele não deixa escapar um e não precisa muito esforço para perceber que o cara está afim. “Basta me dar abertura ou uma ‘deixa’ que está afim, que parto para cima”. Aquiles diz que na cama é ativo e faz sexo com eles por prazer e, às vezes, por dinheiro também. “Gosto de satisfaze-los, me sinto bem”. Ele conta que o tesão aumenta só de saber que tudo vai ser feito bem escondido. “Acho engraçado, quando vejo um ‘peguete’ acompanhado de uma mulher ou de amigos. A gente disfarça e finge que nunca viu. O bom é que ninguém percebe”.

Liberdade e prazer

O direito a liberdade sexual que temos hoje, custou muita luta e muito sacrifício aos nossos antepassados, a quem devemos agradecimentos. Apesar de ainda, trazermos dentro de nós, muitos dos nossos preconceitos, muita herança cultural repressiva, temos o fundamental, o direito de escolher.
A verdadeira liberdade sexual é praticar o sexo dentro dos parâmetros de nossas crenças e convicções. Sabemos que a atividade sexual é uma das maiores necessidades do ser humano e que de uma vida sexual sadia decorre uma vida mental sadia. É preciso ser honesto consigo mesmo, reconhecer seus desejos, suas necessidades e seus limites. O limite do sexo é o da nossa própria crença sobre ele. E as crenças e os princípios daqueles que são escolhidos como parceiros. Fantiny, 22 anos, consultor de vendas, assumiu sua homossexualidade aos 16 anos. A família relutou, mas não podia fazer nada. “Hoje eles não falam nada, sou eu quem sustento a casa. Depois que assumi, senti um alívio, como se fosse um pássaro que acabara de se libertar da gaiola”, disse ele. Fantiny se relaciona com homens de 18 a 40 anos, de todas as classes sociais, mas prefere acima dos 30 anos. “Não sou uma paquita erótica. Gosto de aprender e não de ensinar. Na cama sou passivo, faço a mulher, tenho a mentalidade feminina. Saí do ‘armário’ e sou feliz assim. É a vida que escolhi pra mim”.

Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.


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28 de nov. de 2009

Sessão Produções

Boa Tarde!

A busca por um livro dá início a uma aventura pelo mundo das palavras, das páginas e de outras coisas que se podem encontram em uma biblioteca interditada. Esse reportagem foi escrita por Dennis Weber para a disciplina Redação e Expressão Oral II, ministrada pelo Professor Sandro Colferai, em 2008. Boa leitura e boa descoberta.


Pó, lama e teias de aranha


(Por: Dennis Weber)



Preparo-me para iniciar um trabalho da faculdade, quando Andréia chega toda esbaforida em meu apartamento.
__Troca de roupa rápido, pega a sua câmera e vamos até a biblioteca! O guarda está lá e disse pra gente ir depressa, pois ele tem que ir pra um curso às sete e meia. – ordena arfando a recém-chegada.
Sem hesitar, troco de roupa, desplugo a câmera do carregador, coloco-a numa maltratada bolsa e saio para fotografar o objeto de minha reportagem.
__Vamos depressa, meu filho! Só temos quarenta minutos pra achá-lo. – vocifera Andréia que dá passos longos e precisos.
__Mas o guarda não fica lá durante a noite toda? – pergunto confuso para Andréia.
__Ele chega lá ás seis horas da tarde. Ás sete ele vai para um curso. Quando são dez horas, ele volta pra biblioteca.
Duas quadras separam a minha casa da biblioteca, distância que Andréia e eu percorremos em menos de cinco minutos.
A única biblioteca pública de Vilhena está encravada na Praça Nossa Senhora Aparecida há dezenove anos. Depois de quase duas décadas, passa por uma reforma que já dura mais de um ano. Muitas coisas mudaram por ali, a começar pela rústica placa de madeira que apresenta o local: está virada para o interior da biblioteca, como se dissesse que não quer ser incomodada. Que pena! Terei que entrar em suas dependências para procurar algo valiosíssimo.
Antes de contar como se encontra o local hoje é preciso retornar, mais ou menos, um ano e meio no tempo e descrever como era aquele ambiente antes do início da reforma.

Era uma vez...

A Biblioteca Pública Municipal Monteiro Lobato funcionava em ritmo acelerado das sete da manhã às dez da noite. Cerca de 300 pessoas visitavam o local diariamente. Lá elas passeavam por entre as estantes abarrotadas de obras. Além de uma grande quantia de livros, o acervo também era composto por revistas nacionais e jornais locais que, ao contrário de muitos livros, não podiam ser emprestados.
Após encontrar algo interessante, os transeuntes retiravam os livros das estantes, e iam se acomodar na sala de estudos. Nesse ambiente o silêncio era algo sagrado. Tanto que nas paredes estavam fixados cartazes do tipo: “Se você tem educação mantenha-se em silêncio”. Mas era quase impossível manter-se quieto naquele lugar. Também pudera: em um ambiente repleto de palavras era impossível mantê-las somente nos livros. É aí que entrava em ação um funcionário da biblioteca, que levantava de seu posto, ia até o foco de intenso ti-ti-ti e soltava um ruidoso “chiiii”, apontando para um dos lembretes nas paredes. Era o suficiente para manter os tagarelas quietos por uns 10 minutos.
Existia um grande quadro do escritor que teve seu nome utilizado para nomear esse lugar. Em uma tela pintada com tinta a óleo, colocada em um espaço privilegiado, se destacava o inconfundível bigode de Monteiro Lobato, acompanhado de um curioso Visconde de Sabugosa e uma torre de petróleo ao fundo. Também havia outras telas, dentre elas o retrato de um alvíssimo Machado de Assis, algo estranho sendo ele mulato.

Ecos do passado

Voltando para a noite em que vamos procurar a relíquia, vejo três cruzes por cima do telhado da biblioteca. Essa cena estranha me faz viajar. Gritos do passado ressoam em minha mente e me conduzem para uma época em que eu não havia presenciado, mas que se repete nesse momento. Um tempo em que o saber era negado à população.
Imagens rodopiam em meu cérebro e me levam até a Idade Média, mais precisamente até o interior de um mosteiro na Europa. Um lugar úmido e sombrio onde o conhecimento era multiplicado por pacientes homens que dedicavam a sua vida a transcrever palavras. O trabalho era lento. Se errassem uma palavra sequer, deveriam recomeçar a transcrição da obra. Porém esse conhecimento era restrito a uma pequena parcela da sociedade. Havia uma enorme repressão por parte da Igreja Católica. Escritos eram censurados e até mesmo incinerados para que a população não tivesse acesso ao conhecimento. Mas antes de fumegar aqueles profanos saberes, eram feitas cópias, que seriam armazenadas secretamente no interior dos mosteiros.
Alguns séculos à frente, a situação se repete. O ano é 2008. O local é a pacata cidade de Vilhena. O conhecimento está armazenado em uma sala e não pode ser compartilhado com a população. Dessa vez, o que impede a democratização do saber não é a Igreja Católica, por mais que essa, ironicamente, se situe em frente à Biblioteca Municipal.
Sou chamado à realidade com um cutucão nas costelas. Meus olhos que estão fixos nas três cruzes voltam-se para a impaciente Andréia.
__O que você tá olhando? Anda logo, que o guarda tá esperando a gente entrar para fechar a porta.
É, realmente o saber está trancafiado em uma sala e só algumas pessoas podem ter acesso àquela infinidade de palavras. Idêntico ao que acontecia na Idade Média. Das sessenta e sete mil cabeças pensantes espalhadas pelos quatro cantos de Vilhena, só três pessoas, neste momento, podem ter acesso a mais de vinte mil obras.

Mudanças

Nos apresentamos ao senhor que vigia o local que de cara impõe uma condição:
__Vocês vão ter que ser rápidos por que daqui a pouco eu tenho que sair.
Concordamos balançando as cabeças e entramos no local onde antes funcionava a sala de leitura.
Tudo mudou. O ambiente está praticamente irreconhecível. O local que antes era ocupado por mesas e cadeiras agora se transformou em um grande salão empoeirado. No chão há algumas telhas que sobraram da nova cobertura. Os cartazes e os quadros foram retidos da parede. Faltam alguns vidros nas janelas. Não existe forro. Em seu lugar são visíveis as vigas que sustentam o novo telhado e uma grande quantidade de teias de aranha. Uma réstia de luz vinda da rua clareia o grande salão.
Caminhamos um pouco mais adiante e adentramos onde antigamente se enfileiravam as estantes. Um pouco mais escura que a outra sala, essa está tomada por uma pequena inundação. A água se mistura com a poeira no chão e forma uma lama, que tentamos desviar. Mais tarde, descobrirei que um dos motivos pelo atraso da entrega da obra foi a falta de recursos para trocar a parte elétrica e hidráulica do local, que não estavam inclusos no projeto original. A princípio só iriam trocar o telhado e o forro e pintar as paredes, mas como a estrutura era antiga, outros problemas surgiram após o início das obras. Dos R$ 42.100,00 iniciais, o valor da obra saltou para R$ 77.000,00. Os 120 dias de prazo para a entrega da obra se multiplicam. Viram 240 depois 360 e quem sabe 480. A obra já está parada há 6 meses.
Paramos em frente a uma grande porta de vidro. O vigia gira a chave abrindo passagem para a nossa busca. Entramos naquele novo ambiente. O ar recende a papel e poeira. São cento e treze metros quadrados a mais para a biblioteca. Ali futuramente será instalado o Telecentro com 20 computadores ligados à internet, para que os usuários tenham outros meios para realizarem as pesquisas. Enfim, encontramos os livros. Ácaros nos esperam para irritar nossos narizes. Precisamos procurar um livro com mais de cem anos. Ele trata da viagem que Marechal Cândido Rondon fez instalando os postos telegráficos, comunicando o Norte ao restante do país. Não sabemos o nome do autor e nem o nome da obra.
Tudo começou quando Andréia e eu fomos entrevistar o diretor da biblioteca, Guilherme Naré. Ao indagar qual era o livro mais antigo da biblioteca ele informou: “Temos um livro da época do Marechal Cândido Rondon, do ano de 1907.” Foi o suficiente para aguçar minha curiosidade e me fazer querer entrar lá a qualquer custo. Quando perguntei qual era o aspecto do livro, ele disse: “Está bem frágil. As folhas estão quase se soltando. Então não é pra qualquer um que emprestamos. Para crianças nós não emprestamos”. Perguntei também se a obra estava em algum local separado e Guilherme contou que o livro estava com os demais livros de História.
Conseguir entrar na biblioteca foi uma proeza e tanto. Foram necessárias várias investidas até conseguir encontrar alguém no local. Sempre dava uma passadinha em frente e nunca via ninguém lá. Como iria encontrar aquela obra tão preciosa? Ainda bem que minha amiga Andréia conhece quase todo mundo na cidade. Ela disse que conhecia o vigia e que poderíamos ir até a casa dele para pedir que abrisse a biblioteca para nós. E foi isso o que fizemos. Fomos até a casa do vigia, que não estava lá, e deixamos um recado com uma vizinha. Parece que deu certo, pois hoje estamos aqui dentro tentando achar o livro. Retiro a câmera da bolsa e começo a tirar fotos.

O novo e o velho

Essa nova parte da biblioteca onde será instalado o Telecentro é totalmente diferente das outras duas. Aqui há iluminação adequada, que se propaga pelo forro branco de PVC. CLICK! Não existem inundações e todas as janelas têm vidros, que estão devidamente lacrados. Mas se você pensa que tudo está organizado, se engana. A bagunça impera no local. CLICK! Em um canto estão empilhadas as cadeiras que faziam parte da sala de leitura.
As estantes de livros estão desordenadas. CLICK! Muitos livros, por falta de estantes, estão em cima de balcões ou de mesas. Estão empilhados ao lado de inúmeras revistas. Imagine onde eles irão colocar mais quatro mil livros que receberam da Funarte (Fundação Nacional de Arte). CLICK! Uma das janelas antigas foi colocada entre uma mesa e um balcão. CLICK! Em um canto há um globo terrestre, amarelado e com alguns países a menos do que atualmente. CLICK! A máquina de escrever Olivetti, escondida atrás de uma pilha de livros, está coberta por uma camada de poeira. CLICK!
O retrato de Monteiro Lobato, agora está no chão escorado em uma das estantes. Perto dele também está o Machado de Assis branco e outras telas cheias de pó. CLICK! Isso parece tudo, menos uma biblioteca. Na verdade, parece somente um depósito mal cuidado. Vai ser difícil encontrar o livro, mas irei tentar. Largo a câmera em cima de uma mesa.

Marechal escondido

Andréia vai para um longo e estreito corredor, enquanto eu me enfio em outro. Como combinado, quando um achar a estante de livros de História chama o outro. Começo pelas estantes encostadas na parede. Visualizo vários títulos, mas nenhum é de História. Passo os dedos nas capas de grossos livros. Como seria a capa daquele livro?
À medida que avanço pelo corredor, o ar vai ficando cada vez mais denso. Sinto cheiro de papel em decomposição. Coço o nariz. Dá uma vontade louca de espirrar. Atchimmm! A claridade proporcionada pelas lâmpadas fluorescentes vai sumindo e fica um pouco difícil visualizar os títulos dos livros. Começo a suar. Passo a mão pela testa. Bem que aqui poderia ter ar condicionado, não só pelo calor que faz, mas também pela conservação dos livros. Imagine quantas obras já foram descartadas pela falta de uma climatização adequada? No entanto, parece que não se importaram com esse detalhe. Espero que aquilo que eu esteja procurando não tenha levado um fim trágico.
Chego perto das estantes de Literatura Estrangeira. Observo títulos e autores e encontro uma grande quantia de livros da escritora Agatha Cristhie. Lembro-me da entrevista com o diretor e da informação de que um dos autores estrangeiros mais lidos era justamente Agatha. Um livro dela em especial me chama atenção “Um corpo na biblioteca”. Sinto um arrepio e olho para trás. Nada. Só uma imensidão de livros. Mas a pouca iluminação somada ao cheiro de papel velho, me deixam com medo. Olho para os lados com a sensação de que alguém está me observando. De repente, vejo um par de cintilantes olhos que me observam. Tremo da cabeça aos pés. Ouço um folhear de páginas e passos.
__O que você está olhando? – pergunta Andréia.
__Nada, não! Levei um susto! Só isso.
__Sai daí e vem já pra cá! Encontrei a parte de História!
Vou até onde está Andréia e começamos a procurar pelo livro. Retiro um livro grosso e velho. Sua capa é marrom e algumas das páginas estão rasgadas. Não, não é esse. Andréia segue os mesmos passos que eu. E assim revistamos todos os livros das estantes de História. São tantas obras. Umas mais velhas do que as outras. Sei que será quase impossível encontrar um livro sem saber o seu nome e do seu escritor.

Raridades

Encontro um livro de 1927. Não perco tempo e vou até onde está a minha câmera. CLICK! Tiro fotos das páginas amareladas e manchadas de “Brasil Colônia e Brasil Império” de Austricliano de Carvalho. Coloco a obra em seu devido lugar. Sei que quando retiro um livro da prateleira não devo colocá-lo de volta, mas mesmo assim acomodo-o no lugar onde estava. Vejo outros livros tão antigos quanto este. Verdadeiras raridades que correm o risco de desaparecerem.
Confiro as horas no celular. Faltam apenas cinco minutos para o vigia ir para o tal curso. Andréia lê atenciosamente um livro de Nelson Rodrigues. Viro para outras estantes e vejo “Dom Casmurro”. Machado de Assis era um dos autores brasileiros mais lidos dessa biblioteca. Sinto uma angústia, por não ter conseguido encontrar o livro sobre o Marechal Rondon. Olho todos os títulos referentes à História por mais uma vez, tentando encontrar algum que eu não tenha visto. Nada.
Nosso tempo acaba. O vigia se levanta. Saímos dos corredores e nos encaminhamos para a porta de vidro. Olho para aqueles livros que estão fora da estante. Será que o livro está ali? Não tenho mais tempo. Atravesso a porta que havia entrado com uma sensação de derrota. Passo pela placa virada. Andréia vem um pouco atrás. Espero ela se aproximar.
__A gente tentou! – conclui Andréia.
__É. Mas eu não consegui achar o livro.
__Com uma bagunça daquela seria um milagre se você achasse.
Sei que não poderei entrar de novo. Foi apenas uma noite. Eu ainda tive a sorte de ficar ali por menos de uma hora, mas outras pessoas já estão a mais de um ano sem poder freqüentar e utilizar os serviços da biblioteca. Pessoas que não tem condições de ir a uma lan house para fazer uma pesquisa e se vêem obrigadas a se espremer nas escassas bibliotecas escolares.

Um mundo fechado

“Um país se faz com homens e livros”. Essa célebre frase foi proferida por um dos maiores escritores da literatura brasileira, Monteiro Lobato. Pena que essas palavras não estão sendo aplicadas em Vilhena. Há homens. Há livros. Mas o elo que liga esses dois pólos está fechado. Nesse momento Cinderela, Emília, Capitu, Iracema, Tom Sawyer, Sherlock Holmes, Nero, Napoleão, Dom Pedro I, Zumbi estão aprisionados em uma sala. Eles esperam nas milhões de páginas para retornar a vida. Marechal Cândido Rondon também espera voltar.
Você deve estar se perguntando “Porque ele se deu ao trabalho de ir procurar um livro tão velho?” A resposta é bem simples. Se um livro viveu por cem anos nas condições pouco favoráveis em que se encontravam as outras obras da biblioteca, é por que definitivamente ele tem alguma história para contar. Uma obra como essa não deveria estar exposta a tantos perigos. Deveria ser mantida em local devidamente climatizado e seguro. Mostrada como prova da resistência do conhecimento em um país de poucos leitores.
Reza a lenda que as bibliotecas seriam a metáfora da Fênix, que segundo a tradição egípcia era uma ave fabulosa que durava muitos séculos e, quando queimada, renascia das próprias cinzas. A Biblioteca Pùblica Municipal Monteiro Lobato, encontra-se adormecida em meio a uma espessa camada de pó. Enquanto isso, os alunos da professora de Língua Portuguesa e Redação, Lourdes Benassi, da Escola Álvares de Azevedo, realizam os seus trabalhos com o auxílio da Internet. A quantidade de informações é imensa, mas os alunos não sabem selecioná-las. Eles apenas copiam e colam trechos de um site. Perdem o costume de ler o que estão pesquisando. Perdem a noção de como fazer um resumo. Entregam trabalhos que fogem dos temas solicitados. Diante dessa e de incontáveis situações parecidas será que essa gigante ave do conhecimento chacoalhará a poeira incrustada nas suas mais de vinte mil penas e ressurgirá como a principal arma na busca do saber de qualidade?


Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

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27 de nov. de 2009

Sessão Produções

Boa Noite!

Cada lugar tem uma história. Algumas são esquecidas, outras exaltadas. Hoje vamos conhecer um pedacinho de Vilhena. Um bairro chamado Bodanese. A reportagem é de Divania Rodrigues. Ela foi confeccionada para a disciplina Redação e Expressão II, ministrada pelo Professor Sandro Colferai, em 2008. Boa leitura e boa descoberta.


A saga de um pedacinho de Vilhena


(Por: Divania Rodrigues)

Mais de 30 anos e ainda pequeno. Sem grandes monumentos, prédios ou movimento – esse cantinho não é o centro de Vilhena, mas bem que poderia ter sido. De tão tranqüilo quase não foi notado ao longo dos anos. Apesar disso foi crescendo devagar, e tornou-se o lar de muitos. Um lar com grandes histórias.
Não se sabe o início exato desta saga por falta de dados oficiais. Sabe-se, porque é dito pelos mais antigos, que tudo começou quando Vilhena ainda era distrito de Porto Velho, entre 1970 e 1975. Imaginem: construiu-se no meio do nada – bem longe do povoado – um lugar que, segundo Maria José de Matos Tavares, 60, servia como sanatório para tratamento de pessoas com tuberculose.
Esse sanatório, por volta de 1978, transformou-se na Unidade Mista de Saúde da Fundação Sesp. Foi então que Maria José mudou-se com a família para Vilhena. Veio para trabalhar como enfermeira neste Hospital. A família dela foi uma das primeiras a morar ali nos arredores, na casa de apoio aos trabalhadores do Sesp. Segundo o que ela e outras pessoas relataram tudo em volta daquele pedaço de chão era mato e só existia uma “picada” para se chegar à Unidade de Saúde.
Foi só a partir da década seguinte que a fase embrionária desse cantinho da cidade começou a chegar ao fim. Por volta de 1980 a prefeitura iniciou a abertura de ruas e o loteamento das terras desde o cemitério, passando pelo Sesp, chegando à BR- 364. Então, em 1982 foi erguido às margens da BR, ainda em meio ao matagal, um posto de gasolina e uma churrascaria. E esse foi o marco do fim da gestação e o início da vida de um novo setor na cidade de Vilhena.
E data de 05 de dezembro de 1983 a regularização do loteamento chamado setor 07. Ele nasceu com 466 lotes em 36 quadras. Mas, seu batizado demorou e só foi realizado em 12 de maio de 1987. E, pela Lei Municipal nº 134/87 foi lhe dado o nome Bairro Bodanese.

Na cidade, mas em meio ao mato, sem água encanada ou luz elétrica, com poucas ruas abertas e essas sem asfalto, sem mercados ou farmácias próximas. Mesmo com essas e outras dificuldades os pioneiros foram chegando. Com a abertura do Posto Bodanese o crescimento do bairro se intensificou mais, e também começaram a surgir pelas redondezas pequenas empresas ligadas ao ramo de carros e caminhões. Em 1984, segundo Maria José, o Hospital foi desativado, diminuindo o fluxo de pessoas circulando pelo bairro. Recentemente foi tomada a decisão de se demolir o prédio do antigo Sesp para a construção de casas populares para pessoas que começaram a morar no local a cerca de uns dez anos. Falando em demolição, não se pode esquecer da antiga caixa d’água do bairro, que data na mesma época da construção do Sesp. Ela veio ao chão, mas os entrevistados nem se deram pela falta dela, aliás, nem se lembram que ela tenha existido. Talvez esse seja o resultado da destruição: o esquecimento.



O nome de batismo foi escolhido, pois as pessoas que moravam no setor davam como referência, ao indicar endereços, o Posto Bodanese. Diziam que moravam no setor Bodanese. Então, foi mandado à Câmara Municipal projeto que nomeava o bairro como tal em homenagem a Guerino Bodanese, avô do dono do Posto. Ele havia sido madeireiro e como na época Vilhena tinha como principal atividade econômica a extração de madeira o projeto foi aprovado.
Mas, já antes do batizado do bairro havia ali uma escola, particular, de ensino infantil e fundamental. Ela foi instalada em 1986 sob o comando da Igreja Adventista. Seu nome era Centro Educacional Erick Kuipers em homenagem a um de seus fundadores. Hoje é a Escola Adventista de Vilhena.
Em 1988 é denominado pela Lei Municipal nº 181/88 de Bairro Marcos Freire o Setor 7-A, nos fundos do Bairro Bodanese. Mas, até hoje os moradores da redondeza não se dão conta da modificação. Testemunha disso é Nair Moraes de Souza Goulart, 38, que reside no Bodanese há quase vinte anos e fazia visitas como agente de saúde a moradores do setor 7-A também, por causa da confusão. Depois foi alertada que suas visitas eram só no setor 07, no Bairro Bodanese. Mas, segundo ela, se perguntar para alguém onde fica o Marcos Freire, pouca gente sabe responder. Assim como até a Rua 740, onde teoricamente acaba o Marcos Freire, a maioria das pessoas se considera morando no Bodanese, e até as correspondências de lá chegam com o nome deste bairro.
Apesar da confusão, o Bairro Bodanese, no mapa da cidade de Vilhena, tem seus limites da avenida Celso Mazutti à Tancredo Neves e da avenida Melvin Jones ao início do setor de chácaras, perfazendo um pequeno espaço no chão vilhenense.
E foi nesse pequeno espaço que em 1989 foi inaugurada a escola estadual Cecília Meireles, tendo ensino do pré à 4ª série em cinco salas de aula. Marinalva Oliveira Rocha, 40, na escola desde o início, mudou-se para o bairro em 1987 e conta que perto de sua casa havia apenas mais quatro, e que a família dela foi uma das primeiras a morar na Melvin Jones. E lembra, “às vezes ia buscar pequi pelas matas do bairro”.
Ainda no início da década de 90 o desenvolvimento do bairro ia a passos lentos. Jivan Mamédio dos Santos, 65, mudou-se para o Bodanese nessa época, depois de ter feito pesquisas sobre os lugares em que poderia morar em Vilhena. “Vi aqui um bairro tranqüilo, sem muita violência”, revela. Mas, disse que passou por muitas dificuldades e chegou a ver a esposa chorar por não haver água encanada. Segundo ele, a distribuição era feita por caminhões-pipa, e quando estes não passavam, tinham que ir buscar água no Posto Bodanese. Também disse que a energia sempre faltava e que isso era um problema.

Apesar dos pesares, os moradores do bairro Bodanese que foram entrevistados, dizem gostar muito dali pela tranqüilidade, pela relação harmônica que têm com os vizinhos e pela violência ainda não ter chegado a alarmá-los. Mas, contam suas histórias com tristeza pelo bairro não ter tanta infra-estrutura quanto os demais que surgiram na mesma época ou depois deste. Não pensam em mudar de bairro e ainda anseiam por mudanças. Pelo que se falou o Bodanese não tem uma associação de moradores, e se tem ninguém sabe dizer dela, para lutar por melhorias. Dizem os entrevistados que falta união, liderança, e que as vezes um pensa, o outro também, mas nenhum conta para o outro e tudo fica no pensamento.


Hoje os problemas com relação à água e energia no Bodanese já não são graves quanto antes. Duas ruas em seu interior são asfaltadas, assim como duas que passam à margem. Tem uma escola de ensino fundamental e médio – Cecília Meireles -, uma de ensino infantil – Noeme Barros Pereira – e a Escola Adventista. Ao longo da avenida Celso Mazutti têm comércios ligados à carros e caminhões, e na Melvin Jones algumas lojas. No interior do bairro tem um mercadinho e algumas igrejas, muitos terrenos baldios, praças verdes de chão batido e mato, casas antigas e algumas de arquitetura moderna. A prefeitura, para agora, tem um projeto para o bairro: fazer a ampliação da recém inaugurada escola Noeme Barros Pereira.
Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.
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