19 de nov. de 2009

SESSÃO PRODUÇÕES

Olá....

Hoje teremos aqui no blog Voz UNIRversitária um perfil escrito pela acadêmica Daniela Simionatto Bruneto.

O texto foi produzido para a disciplina de Técnica de Entrevista, que foi ministrada pela Profª Patricia da Veiga Borges em 2008.




Ah, a Dona Marta*! Uma pessoa encantadora, com um sorriso enorme nos lábios pequenos. Sempre atenta e carinhosa não deixa de lado os seus deveres e o companheirismo com aqueles que a cercam.


É uma ‘baixinha porreta’, com olhos castanhos brilhantes, que com a boca miúda e sem batom faz ressaltar ainda mais a beleza de sua face. Tem a pele branca, mas por causa do Sol possui algumas manchas com tons mais escuros. Os cabelos longos, sempre presos, servem para conter a ‘cabeleira ruim’, como ela diz. Dona Marta com 41 anos de idade, mas nos registros 44 anos, tem uma voz doce e fina, comparada a de uma criança, e sempre dá gargalhadas contagiantes e verdadeiras.


Dona Marta é uma pessoa calma, querida e alegre. Tem um jeito próprio de tratar os próximos, e aqueles que ela mais gosta os chama de uma forma especial: “estrupicinho”. “Eu os chamo deste modo, porque são uns estrupícios que eu gosto”, diz ela. Dona Marta é assim, quando gosta de alguém, a trata de um jeito diferenciado, cheio de carinho ou de ‘dengo’ – como ela diz. Entretanto, quando alguém a fere, a magoa, se afasta, mas não “sem desabafar e colocar todos os pingos nos ‘is’. Acredito que devemos ser humildes, tratar a todos com educação, mas nunca podemos deixar que nos humilhem. Todos nós somos iguais”, fala Dona Marta de forma confiante.


Ela tem uma personalidade forte, sofreu muito na vida e agora luta contra um preconceito antigo.
Ela nasceu e cresceu no sul de Mato Grosso, mas deixou a cidade aos 17 anos, com uma filha nos braços e dois filhos no céu. Largou a casa e o casamento arranjado pelos pais depois de anos de agressões cometidas pelo seu marido.


Aos treze anos, ‘quando ainda brincava de boneca’ – diz ela – foi violentada pelo seu padrasto. “Ele foi o primeiro homem que eu conheci e a primeira pessoa que odiei”, assim ela fala sobre os seus sentimentos com relação ao seu pai. Com os olhos fixos e úmidos contou que além de espancá-la sem motivos, passou a estuprá-la e para abafar quaisquer comentários que pudessem surgir a forçou a se casar com um homem que a Marta Menina nem conhecia.


Para este casamento a família da Dona Marta adulterou a sua certidão de nascimento, mudando os registros de aniversário do dia 11 de março de 1968 para dia 12 de fevereiro de 1965. Desta forma poderiam fazê-la casar para camuflar a violência do pai. Depois de casados começou a ser agredida física e emocionalmente. Cansada e com medo do que o seu marido poderia fazer com Fernanda*, sua filha, saiu de casa.


Com a decisão tomada, as malas em uma mão, e a filha em outra procurou ajuda na casa de seus pais que não a aceitaram de volta. Sem terem para onde ir, passaram algumas noites dormindo na rua até receberem ajuda, acolhida de uma senhora de boa aparência, mas que era proprietária de uma casa de garotas de programa. Cansada e com fome aceitou a ajuda. Logo começou a trabalhar no lugar.


Alguns anos depois, Dona Marta conheceu um homem por quem se apaixonou. Casaram-se e mudaram de cidade. Foram para Porto Velho. “Esse foi o momento mais feliz da minha vida, tinha ao meu lado a minha filha e uma pessoa que eu gostava”, mas logo esse encanto acabou. O marido que era pedreiro, apesar de gostar dela, não a via como uma mulher e sim como uma ex-garota de programa. Quando ele se zangava a humilhava e lembrava que quem havia tirado ela daquela vida tinha sido ele. Sem entender e muito magoada, novamente saiu de casa. Viveu naquela cidade por mais alguns anos, até resolver mudar-se novamente.


Há cinco anos Dona Marta vive em Colorado do Oeste, tem uma casa pequena, mas muito aconchegante. Leva outra vida, agora trabalha em um órgão público, é uma mulher muito respeitada e querida. Ela não tem vergonha de ter sido “mulher da vida”, pois sabe que seguiu esse caminho para ter onde morar e como sustentar a sua filha. Mas tem vergonha sim da família que teve, do pai agressivo e da mãe ausente. “O que eu sofri eu não desejo a ninguém”, concluiu Dona Marta.



*(Dona Marta e Fernanda são nomes fictícios usados para guardara privacidade das personagens principais do texto.)
Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual.
Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

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